Quem foi Buda?


            Seu nome é Sidarta Gautama e viveu por volta do século VI a.C. no principado indiano chamado Kapilavastu, na região do Himalaia (o que seria hoje o sul do Nepal).  Nasceu príncipe, porque seu pai, Sudohodana, era o rajá do principado.
            Assim como com qualquer símbolo religioso, a vida de  Sidarta é contada povoada de lendas, como a do nascimento. Diz a lenda que sua mãe, Maya, sonhou que entrava em seu flanco (parte lateral do corpo entre o quadril e as últimas costelas) um  elefante branco com a cabeça cor de rubí e seis presas. Desse encontro, em sonho, Sidarta foi concebido.  Ele nasceu de cor dourada, com uma coroa orgânica no alto da cabeça, quarenta dentes brancos e unidos e centenas de símbolos desenhados nas plantas dos pés.  Na lenda, o elefante significa a mansidão e as seis presas, os sentidos do universo: norte, sul, leste, oeste, para cima e para baixo.
            Lendas à parte, sua mãe morreu uma semana após o parto e ele foi criado por uma tia. A narrativa indiana é caracterizada pelos exageros e pelas lendas, o que torna difícil relatar a história da vida de Buda, sem povoá-la de lendas. Segundo os próprios monges, pra que separar a vida da lenda?  Baseando-se nisso e respeitando a história, vamos aos fatos verídicos ou nem tanto. Um exemplo da narrativa do exagero, conta a lenda que ele teve um harém de 84 mil mulheres, uma história bem diferente da que vamos ver agora.
            Quando tinha dezenove anos se casou com sua prima Yasodhara,  viveu dez anos felizes e teve um filho com ela,  Rahula. Sua felicidade foi abalada devido a 3 passeios  que fez  fora do palácio em seu cavalo com seu cocheiro. No primeiro, viu um homem bem velho, com a aparência bastante sofrida que caminhava com dificuldade apoiado em um bastão de madeira (uma bengala). Seu cocheiro lhe explicou que se trata de um homem velho e que é o destino de todos envelhecerem  e ficar como ele.   No segundo passeio, avistou um homem com o corpo deteriorando devido à lepra e seu cocheiro lhe diz que ele sofre de uma doença e  que qualquer um está sujeito a pegar uma doença como ele.  E por fim, no terceiro passeio, viu um cortejo fúnebre e perguntou o que era ao cocheiro. Ele disse tratar-se de um morto e que a morte era o destino certo de todos.
            Esses passeios influenciaram completamente Sidarta e ele, depois de dez anos de casado, e já com 29 anos, abandona o palácio deixando pra trás a mulher e o filho. Deixa também todas as roupas, corta o cabelo e entrega o cavalo ao seu criado. Parte sozinho, em busca de conhecimento e esclarecimento.
            Diz a lenda que um anjo lhe teria dado seus únicos pertences: o traje amarelo, o cinto, a  navalha para cortar o cabelo, a agulha, a tigela para as esmolas e a peneira para filtrar água.
            Refugiou-se durante seis anos no bosque de Sena, no território de Magadha. E junto a 5 companheiros, dedicou-se à automortificação.  Fez jejuns prolongados e quando comia, era só frutas.  Chegou a permanecer dias imóvel em posição de meditação debaixo de sol e chuva.  Depois de fraco, percebe que essas atitudes não o faziam obter as respostas que procurava para o sofrimento humano.  Foi quando partiu novamente deixando para trás os companheiros para banhar-se no rio Nairanjana e se fortaleceu com a comida oferecida por uma aldeã. Ali, à sombra de uma figueira teria sido iluminado.
 

 A iluminação :   ele teria visto infinitos mundos, encarnações de todos os seres, todas as causas e todos os efeitos. Ao amanhecer intuiu as Quatro Nobres Verdades:

            *  O sofrimento é inerente a toda forma de existência.
            *  A ignorância é a origem do sofrimento.
            *  Extinguindo a ignorância se extingue o sofrimento.
            *  O que é necessário para extinguir a ignorância e o sofrimento é manter a mesma distância dos desejos e apelos do mundo e do ascetismo (doutrina religiosa pela qual se aperfeiçoa a alma em sua união com Deus por meio do exercício espiritual) e da automortificação.  Traduzindo: manter o equilibrio, não cedendo aos apelos do mundo nem aos apelos religiosos.

            Sidarta se refere a isso no que chama de Nobre Senda Óctupla o que seria composta por:  comprensão correta, pensamento correto, modo de vida correto, palavra correta, ação correta, esforço correto, atenção correta e concentração correta.  Por essa Senda se chega à extinção da ignorância.
            Depois da iluminação, Sidarta se tornou Buda (o iluminado) e adotou o título que recebeu, Tatágata (aquele que veio da verdade).
            Ele teve inúmeros adeptos  e entre eles, seu filho Rahula.
 

            O budismo tem três marcas distintas:

            * a impermanência :  todos os fenômenos  são efêmeros, ou seja, estão sujeitos à transformações.
            * insubstancialidade :  seres não possuem qualquer núcleo estável que determine a sua natureza, mas são um complexo  cambiante (trocam constantemente) de relações.
            * nirvana : estado de extinção dos sofrimentos que se manifesta quando o homem compreende as duas outras marcas e se liberta da sua ilusão de "eu"  e dos apegos egoístas que ela produz.

            Buda superou o samsara (mundo das aparências) e atingiu o nirvana. Foi adiante, e depois de sua morte atingiu o nirvana pleno.  Ele se preparou para morrer, banhou-se pela última vez,  aceitou alimento deteriorado oferto pelo ferreiro Cunda,  comeu propositadamente e esperou a morte deitado sobre o lado direito com a cabeça para o norte e o rosto para o poente.  Foi cremado e as cinzas cobertas com mel. Uma parte delas foi entregue aos nagas (serpentes com face humana que habitam o mundo subterrâneo), outra parte aos deuses e a outra aos homens.

            O budismo não acredita num deus-criador. Ele acredita  que os universos passariam por um processo de destruição e criação, sem começo nem fim, regidos por uma lei eterna. Não acredita em alma imortal:  são   as palavras, os pensamentos e as ações  de uma existência que constituem o karma que determina uma existência  futura. Esse processo é doloroso e só se pode  libertar-se dele quando se chega à raça humana e se atinge o nirvana.  Atingindo o nirvana, liberta-se do processo e cessam todos os desejos e só fica a suprema e eterna paz.

Fonte: Revista Super Interessante